"Saí. Ao chegar à esquina parei e segurei num poste de ferro,
como se ele fosse uma árvore cheia de flores. Tudo era fantasia,
um sonho, um mundo de vastas emoções e pensamentos imperfeitos".
(RUBEM FONSECA, in "Vastas Emoções e Pensamentos Imperfeitos" )
Sou gaúcho de Porto Alegre, onde nasci em novembro de 1964.
Nasci no "Hospital São Manoel" (talvez "Manuel"), na Av. Independência. Esse Hospital não existe mais e há anos tento, em vão, descobrir qual o número do prédio aonde ele se situava. Tenho percorrido bibliotecas, hospitais e órgãos públicos atrás dessa informação. Já ouvi, de viva-voz, de algum desses lugares: "ele nunca existiu". É como se o tal "Hospital São Manoel" tivesse evaporado e eu tivesse simplesmente brotado do chão. Quando criança, passava pelo prédio (então chamado de "Hotel Bragança"; nome que ainda vou usar num conto), e minha mãe apontava: "aqui tu nasceu". Infelizmente eu lembro que era um casarão, mas não me lembro qual deles. Há vários casarões ainda de pé na Av. Independência, e outros tantos que foram postos abaixo, o que pode incluir o "meu Hospital". Há uma referência ao Hospital no Google, por causa de um padre que teria sido o capelão por lá e teria ajudado a fundar, mais tarde, com algumas freiras, o Hospital Mãe de Deus. No Hospital Mãe de Deus ninguém sabe sequer do rastro do "Hospital São Manoel". Por alguma razão, eu preciso saber disso, o que me angustia. Ainda não desisti.
O sobrenome "SCHULTZ", foi herdado do meu bisavô materno por parte de pai. Ele se chamava Ernesto Schultz, que foi o mesmo nome dado ao meu pai. Ernesto Schultz (o bisavô) era um alemão nascido na Alemanha (não um descendente ou de origem alemã nascido no Brasil) que, por alguma razão, veio parar na Fronteira do Rio Grande do Sul com a Argentina no final do século XIX, início do século XX. E veio para São Gabriel/RS e não para as zonas tradicionais de colonização alemã. São Gabriel/RS é também a terra do pai do compositor e músico Tom Jobim. Em São Gabriel, o meu bisavô perfurava poços (de água). O sobrenome "SCHULTZ" só foi anexado ao meu nome aos 22 anos de idade, por força de uma medida judicial ajuizada por mim mesmo, com a ajuda de um advogado. Eu era estudante; eu a elaborei e esse advogado assinou a medida judicial por mim. Acho que foi a minha primeira causa.
Sou bacharel em Direito desde 1990 e advogado (atuante, não de mentirinha) desde 1992, tendo conquistado a carteira da Ordem dos Advogados do Brasil; Seccional do Rio Grande do Sul por aprovação do Exame de Ordem que, na época, era opcional. Bastaria cursar um ano a mais no final da faculdade e se obtinha a carteira automaticamente, sem exame. Eu optei por fazer o Exame. Fui reprovado inicialmente, apresentei recurso (feito por mim mesmo) à banca da OAB, e modifiquei a decisão, dobrando a nota alcançada e sendo aprovado. Essa foi a minha primeira causa ganha, e assinada por mim mesmo. Me orgulho de ser advogado, não sei fazer outra coisa. Me orgulho (genuinamente, não é hipocrisia para parecer bonzinho) de pertencer à Ordem dos Advogados do Brasil, seccional do Rio Grande do Sul. Pertencer à OAB me ajudou e me deu amparo em vários Estados do Brasil, quando estive a trabalho.
Já fui professor (convidado) em duas ou três faculdades. Homenageado em duas. Palestrei pelo Rio Grande do Sul e pelo Brasil afora.
Meu interesse pela Literatura (somente a Brasileira, no início) se iniciou antes dos 17 anos de idade, quando o meu irmão retirava livros na Bibilioteca do Centro Municipal de Cultura (Porto Alegre/RS); levava para casa, mas não os lia. Eu, por ser meio "fechado" e sem opções (digamos assim), os lia. Meu interesse maior foi pela obra de RUBEM FONSECA, de quem li todos os livros (e os tenho em casa) desde aquela época até a sua morte, em abril de 2020. A morte de Rubem foi, para mim, quase uma perda pessoal. Para mim ele foi o maior escritor brasileiro do século XX; o substituto de Machado de Assis em importância. Como Rubem nunca fez uma sessão de autógrafos (foi um homem e um escritor recluso a maior parte da vida), devo ser uma das poucas pessoas (e um dos pouquíssimos gaúchos; senão o único) que tem dois livros autografados por ele, recebidos em algumas trocas de correspondência. Não me envergonho de dizer que escrevo inspirado nele e que aprendi a escrever com ele. Só leio escritores que respeito e cujo texto eu não conseguiria fazer parecido, nem se quisesse. Rubem Fonseca é insubstituível, mas no seu lugar; no meu respeito, na minha admiração e no meu coração de escritor, estão hoje a Patrícia Melo e o Marçal Aquino. Não por coincidência, considerados pela crítica como uma espécie de "herdeiros" de Rubem.
Leio de tudo o que me interessa, mas tenho um interesse especial (e meio bairrista) por brasileiros, latinos e de língua portuguesa ou espanhola. Não sou muito chegado a americanos, ingleses, russos, orientais de qualquer lugar, mas há exceções que me agradaram. Gosto (sem ordem de preferência e sem esgotar a lista) de Gabriel García-Marquez; Pedro Juan Gutierrez; Mia Couto; Javier Marías; Juan Gélman (poeta); Mario Benedetti (poeta); Adélia Prado (lugar especial na minha preferência); HIlda Hilst; Cora Coralina; Marina Colasanti; Affonso Romano de Sant´Anna; Jorge Amado; Érico e Luis Fernando Verissimo; Moacyr Scliar (outro com quem aprendi a escrever na juventude, um "padrinho"); Tomás Eloy Martinez; Eduardo Galleano; Mario Vargas Llosa (já gostei mais); Liberato Vieira da Cunha (gaúcho, por que parou de escrever?); Carlos Heitor Cony; Marcelo Rubens Paiva (gosto do seu estilo meio "canalha" de escrever); Darcy Ribeiro; Clarice Lispector; Milan Kundera; Vinícius de Moraes; Roberto Bolaños e mais uma meia dúzia, vivos ou mortos.
Gosto de cinema, especialmente o argentino. Embarquei na onda das séries, embora tenha resistido bastante a elas no início. Já escrevi roteiros de curta-metragens (e letras de música), mas nunca deu certo. Na real, NADA deu certo, nem escrever livros.
Gosto de arte, especialmente de pintura. A obra de Modigliani e de Van Gogh é bonita, mas gosto de outros menos clássicos e menos conhecidos também. E da escultura de alguns, com destaque para o (Auguste) Rodin, embora insistam em me dizer que ele foi um crápula com Camille Claudel. Não tenho nada a ver com a briga deles.
Escuto música. Qualquer gênero, menos pagode (não confunda com samba, esse eu escuto), funk, axé e sertaneja. Para demonstrar boa vontade, já gostei de umas três sertanejas, gravadas por cantores de MPB.
Gosto de objetos e visito sites do mundo todo, olhando eles, mesmo que não compre (alguns eu compro). Canetas; óculos; facas; relógios. Desses últimos, tenho alguns com a minha idade, fabricados em 1964. Um deles no mesmo mês em que nasci, novembro. Gosto de pedras; preciosas ou não. Páro em vitrines de joalherias, para olhá-las. Tenho um desejo secreto de fabricar jóias, mas até hoje nunca me dispus a aprender.
Acho que era só isso.